É impressionante como cresce entre os evangélicos, o discurso de que somos uma geração de adoradores, uma geração que vive para adorar. A cada dia mais cresce o repertório de cânticos que dizem que a melhor coisa do mundo é estar na presença de Deus, que o desejo do coração de cada um é viver em perfeita comunhão e adoração.
E isto é maravilhoso, pois o principal mandamento é amar a Deus sobre todas as coisas – de todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento.
Entretanto, e sem querer escandalizar, creio que existe um descompasso entre o discurso e a prática. Outro dia alguém me disse que ouviu uma mensagem onde o pregador dizia que o diabo armou uma cilada para a igreja atual: fazer os crentes ficarem trancados dentro de suas igrejas cantando, cantando e se esquecendo do “ide de Jesus”. Será isto verdade? Será que estamos gastando tempo demais ensaiando e deixando de lado as almas perdidas que caminham a passos largos para o inferno? Ou será que estamos nos distraindo com os louvores e nos esquecendo da batalha?
Existem várias possibilidades, mas creio que vivemos em tempos parecidos com o do profeta Amós. O povo gostava de ir aos santuários em Betel e Gilgal, todos gostavam de entregar sacrifícios, dízimos... mas suas vidas não eram compatíveis com a adoração. Eles viviam em pecado, oprimiam e escravizavam os devedores, perseguiam e humilhavam os pobres, participavam de orgias e bebedeiras. NO entanto, iam ao santuário para adorar e cantar. É neste contexto que Deus falou através do profeta. “Parem com o barulho de suas canções religiosas; não quero mais ouvir a música de harpas” (Amós 5:23 – BLH). Philip Yancey, citando David Aikman, diz em seu livro “Para que serve Deus” que quando o cristianismo consegue atingir 10% de um povo, a sociedade inteira pode atingir o ponto de uma virada cultural. Mas não é isso que estamos vendo no Brasil.
A cada ano as estatísticas mostram o crescimento da Igreja brasileira, mas não vemos isso refletir em mudança de valores na sociedade. Porém, vemos tanta gente indo a cultos, tanta gente nas celebrações, em congressos... O que acontece é que se perdeu a visão da verdadeira adoração. Adorar não é cantar, levantar as mãos, dançar, viver momentos de euforia emocional. Adorar não é simplesmente proferir palavras com algum conteúdo bíblico e recheadas de pensamentos positivos.
Talvez não exista outro texto bíblico mais didático sobre a adoração do que Isaías 6. E muito já foi escrito sobre isso, mas apesar disso, quero é retornar ao tema. No ano da morte do rei, Isaías entrou no templo e viu o Senhor assentado em um alto e sublime trono. A primeira questão é: será que Isaías nunca havia entrado no templo antes? E se já havia entrado, será que nunca tinha visto o Senhor? Sejam lá quais forem as respostas, aquele dia foi especial. Aquele dia foi completo, porque ele abriu seu coração e entendimento para a adoração, pois diante daquela visão da santidade de deus, sua reação foi reconhecer-se pecador.
Nos nossos cultos temos tido muito poucas oportunidades de reconhecermo-nos como pecadores. Temos falado da santidade de deus, cantando a santidade de Deus, mas não temos percebido esta santidade de fato, pois se entendêssemos toda a dimensão da santidade divina, não poderíamos ter outra reação que não fosse: “Ai de mim, que sou pecador”.
Foi a partir daquele momento, quando Isaías reconheceu-se pecador e que o Senhor o perdoara é que começa a adoração. Foi naquela hora que o Senhor encontrou espaço para falar na vida do seu servo. E o que é que Ele falou? “Quem é que eu vou enviar? Quem será o nosso mensageiro?” (Isaías 6:8). A resposta de Isaías todos nós conhecemos: “Eis-me aqui, envia-me a mim”.
A mesma sequência encontramos no texto de João 4, na conversa de Jesus com a mulher samaritana e em vários outros textos. A conseqüência natural de estar na presença de Deus é sair para servi-Lo. Não existe adoração sem compromisso. Não existe adoração sem missões. Por outro lado, não existe missões sem adoração, pois a obra de Deus não cresce sem o auxílio do Senhor “sem Mim nada podeis fazer” (João 15:5).
É na presença do Senhor que somos desafiados a ir e anunciar o Evangelho. É na presença do Senhor onde reconhecemos que sem Ele não somos nada, e que sem Ele nada faremos. É na presença do Senhor que as estratégias surgem e é na presença do Senhor, em adoração, que finalmente entendemos: adoração e missões – tudo a var!
(Extraído e adaptado da revista Celebrando Missões 2012)
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